“AVENTURA DO SABER” – Projeto faz inclusão social de jovens e idosos no Bonfim
“Muito, muito feliz”. Essa foi a resposta dada pela guianense Eleisa Thomenson, 51, ex-professora em Georgetown, que há dez anos reside no Município do Bonfim, mas que ainda tem dificuldade de entender o português como L2 (segunda língua), ao ser indagada sobre a participação no Aventuras do Saber. Ela e outros 19 alunos integram o projeto ofertado pelo Campus Avançado Bonfim (CAB) do Instituto Federal de Roraima, na fronteira com a cidade de Lethen (Guiana).
Desenvolvido por meio do Programa de Bolsa Acadêmica de Extensão (Pbaex) de 2019, o projeto visa promover a inclusão de jovens e adultos que moram no Município do Bonfim e que estão em situação de analfabetismo. Não se trata de ensinar a ler e escrever, mas de apresentar conjuntos de sons de palavras, ampliação do vocabulário, conhecimento de classes gramaticais, entre outros, que facilitem o entendimento e a compreensão da língua portuguesa, por meio de atividades lúdicas e práticas acima de tudo condizentes com o convívio social de cada um.
Com encontros semanais nas manhãs das quintas-feiras, o projeto, que tem duração de seis meses e que deve encerrar suas atividades na primeira quinzena de novembro, ofertou 15 vagas, porém, devido à grande demanda, conta com 20 alunos. O mais novo tem 15 anos, e o mais velho 80. A média de idade da turma é de 60,5 anos, e as características predominantes disciplina, assiduidade, comprometimento, união e dedicação.
A ideia do projeto, coordenado pela professora Eliselda Corrêa, que tem a aluna do curso Técnico em Administração Alcenira Suleijane da Silva como extensionista, surgiu da percepção de que muitas pessoas na comunidade apenas escreviam o nome e tinham vontade de entender a língua portuguesa. A demanda surgiu da necessidade de pessoas com vivência e experiência de vida em Lethen (Guiana), cidade fronteiriça, que buscavam entender e compreender melhor o português. Da turma, dois alunos não falam e não entendem o português, e os demais ainda se arriscam em utilizá-lo.
“Baseados nessa observação, nos propusemos a fazer a inclusão dessas pessoas por meio da oferta do conhecimento básico da língua portuguesa. Nosso objetivo não é alfabetizar, mas oferecer-lhes oportunidade por meio do letramento a fim de que entendam melhor nossa língua materna para poder, com eficácia e significado, fomentar a inclusão delas nos diálogos, nos entendimentos de informações dentro do próprio município. É um projeto que foi recebido muito bem pelo público-alvo”, disse Eliselda.
No início do projeto, conta a aluna estrangeira Eleisa Thomenson, apesar de estar morando no Brasil há uma década e ainda falar arrastado o português, tinha dificuldade em compreender o que a professora explicava. “Eu cheguei aqui [no projeto] entender mais ou menos. Agora escutar e entender melhor o que professora falar. Escuta é muito importante. Professora tem muito paciência [sic]. Estou muito, muito feliz”, relatou.
E quem tinha dificuldade em entender bem o português se tornou colaboradora do projeto ao ajudar os colegas de sala de aula que entendem menos a língua portuguesa, em especial os mais idosos, a traduzir as aulas do português para o inglês. “Hoje elas [pessoas que falam pouco o português], de uma forma mais pausada, conseguem falar palavras em português. É perceptível que elas conseguem entender melhor o que falamos”, explicou Eliselda.
Na avaliação da coordenadora, o Aventuras do Saber é impactante, uma vez que o Pbaex visa à inclusão social e também à apresentação do instituto para a comunidade. “O foco da instituição é a qualificação, mas acima de tudo a inclusão social. Os nossos alunos estão sendo preparados para o mundo do trabalho, mas esse público em especial visa à inclusão social por meio do diálogo, bem como ao exercício da cidadania de forma mais segura e completa no município. Então, acredito que esse impacto é extremamente positivo”, declarou.
Devido aos bons resultados alcançados pelo curso, à boa aceitação da ideia e ao bom desempenho da turma, a coordenadora disse que há pretensão de que o projeto continue, seja com a mesma turma, seja com uma nova turma. “A gente trabalha com a sonoridade das palavras, não com a gramática. E a intenção de trabalhar com gramática lá na frente é facilitar e garantir uma escrita mais segura, mais correta”, afirmou.